Ecstasy & Club Drugs

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As drogas da era sintética: designer drugs ou club drugs

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As primeiras experiências humanas com substâncias psicoativas deram-se por meio do consumo de plantas. A partir do século XIX o homem conseguiu isolar o princípio ativo vegetal (alcalóide), mas continuava a depender das plantas. Uma terceira etapa começou no final dos anos vinte, com o surgimento das anfetaminas. Pela primeira vez, uma substância psicoativa fora sintetizada totalmente em laboratório, sem precursores vegetais. Uma última etapa começou nos anos oitenta: a popularização das designer drugs. Designer significa desenhar, projetar.

Essas drogas têm como característica essencial o fato de terem sido modificadas em laboratório, com o intuito de potencializar ou criar efeitos psicoativos ou evitar efeitos indesejáveis.

A disponibilidade e o barateamento tecnológico permite hoje que tais drogas sejam sintetizadas com facilidade em laboratórios clandestinos domésticos.

Tais substâncias começaram a ganhar notoriedade nos anos oitenta, a partir de seu consumo dentro dos dance clubs e das raves. Seus freqüentadores, conhecidos por clubbers, consumiam tais substâncias, embalados pelo efeito ‘bate-estaca’ da música eletrônica, num ambiente marcadamente colorido e sintético. Os ideais de “amor”, “paz” e “unidade”, como no psicodelismo do movimento hippie dos anos 60, estão comumente associados ao consumo de designer drugs ou club drugs, como o ambiente sugere.

Inicialmente associada exclusivamente ao ecstasy, a família das club drugs foi aumentando. Isso se deveu à recuperação de antigas substâncias, esquecidas ou em desuso, e ao surgimento de novas (quadro 1).

 

Quadro 1: Designer drugs ou club drugs

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Excluídos os bem conhecidos álcool, Rohypnol® (flunitrazepam), Fentanil e anfetaminas, uma série de substâncias batizadas com as letras de suas fórmulas químicas se nos apresenta. Seus nomes sugerem algo futurista, massificado. A primeira vista parece haver impessoalidade. Letras e siglas capazes de alterar a mente, dentro de um ambiente por si só extravagante, psicodélico e sensual. Uma aproximação faz ver que tais substâncias possuem apresentações temáticas, que personalizam e proporcionam intimidade para as relações entre a droga e seus usuários.

O ecstasy (3,4 metilenodioxi-N-metanfetamina) é a substância que mais se associa às club drugs. A droga foi sintetizada e patenteada em 1912 (Laboratórios Merck), mas só foi utilizada no final dos anos sessenta, quando o professor da Universidade de Berkeley, Alexander Shulgin, começou a utiliza-la como um auxiliar psicoterápico. Tal modo de uso foi proibido durante os anos setenta. A partir daí, o ecstasy ganhou as ruas, para se tornar popular a partir de meados dos anos oitenta, dentro das raves.

O primeiro relato de morte atribuído à substância apareceu em 1987. O ecstasy é uma droga sintética derivada da anfetamina, com propriedades estimulantes e alucinógenas, por isso denominada de “anfetamina psicodélica”. Os usuários relatam que o ecstasy é capaz de causar bem-estar, conforto, empatia e conecção com outros. Por outro lado, complicações como a hipertermia, desidratação, hiponatremia, blackouts e exaustão (tendo alguns casos evoluído para a morte) já foram relatados. Suas propriedades neurotóxicas foram sendo demonstradas ao longo dos anos noventa. O sistema serotoninérgico, responsável pelo controle do humor e dos impulsos, parece ser o mais atingido e lesionado pelo consumo repetido da substância. O ecstasy é capaz de causar dependência.

O LSD (dietilamida do ácido lisérgico) é talvez o alucinógeno psicodélico mais comum em nosso meio. Sintetizado em 1938, teve suas propriedades alucinógenas descobertas em 1943. Utilizado amplamente nos anos sessenta como ‘expansor da mente’ em sessões psicoterápicas. Proibido desde o final da mesma década, apresentou um declínio, para retornar novamente durante os anos oitenta e permanecer desde então.

O quadro desencadeado caracteriza-se por aceleração do pensamento, surgimento de ilusões e alucinações visuais, auditivas e táteis e um sinergismo de sensações (“as cores têm som e os sons têm cor”). Sintomas de pânico e quadros paranóides (viagens de horror ou bad trips) podem ocorrer. Indivíduos predispostos podem evoluir com transtornos esquizofreniformes.

 

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FIGURA 4: Cartelas de LSD. Forma mais comumente encontrada
no Brasil. O LSD é líquido. As cartelas de LSD são divididas em
quadrados picotados, sobre os quais se deposita uma gota
da substância, modo pelo qual é comercializada.
 

O GHB (gama-hidroxibutirato) foi utilizado como anestésico nos anos 60, mas abandonado devido a efeitos indesejáveis. Ele foi utilizado como suplemento alimentar entre fisiculturistas nos anos oitenta e como club drug desde os anos noventa.

O GHB é uma substância sedativa do sistema nervoso central. Sua apresentação mais comum é na forma de sal (NaGHB ou KGHB). Seu precursor bioquímico é o GLB (gama-butirolactona), também consumido com os mesmos propósitos.

Ele é utilizado normalmente diluído em água e os efeitos são semelhantes aos do álcool. Seus efeitos começam cerca de 20 minutos após a ingestão oral. Doses elevadas causam tonturas, incoordenação motora, náuseas e vômitos e rebaixamento do nível de consciência. A grande preocupação é a potência da substância: mesmo em pequenas dosagens pode causar intoxicações intensas, comatosas. Dosagens mais elevadas podem ser fatais. A combinação de GHB com álcool é extremamente perigosa, podendo levar ao coma com mais facilidade.

Como a apresentação líquida tem concentrações indeterminadas, a chance uma overdose acidental aumenta. Como a droga é ainda pouquíssimo estudada, pouco se sabe sobre sua dependência. Há, no entanto, relatos de síndrome de abstinência severas, com duração de vários dias.

As substâncias 2C-B (4-bromo-2,5-dimetoxifenetilamina), juntamente com o 2C-T-7 (2,5-dimetoxi-4(n)-propiltiofenetilamina) são psicodélicos desenvolvidos por Alexander Shulgins durante os anos setenta. A primeira é conhecida por Nexus ou Bromo. Apesar de pouco conhecidos, voltaram a ser utilizados na Europa em locais isolados. Seu efeito é bastante semelhante ao LSD. No entanto, efeitos colaterais gastro-intestinais (náuseas, vômitos, diarréia) e sintomas de pânico e confusão mental não são infreqüentes e podem expor tais usuários a situações perigosas.

O 4-MTA (metiltioanfetamina) é uma anfetamina modificada, menos potente que as anfetaminas convencionais. A substância foi desenvolvida por Dave Nichols (Purdue University) nos anos setenta. A ocorrência de mortalidade relacionada a 4-MTA (provavelmente por sua afinidade serotoninérgica) desencorajou novos estudos. A presença da substância já foi detectada na Holanda, Inglaterra, Alemanha e Portugal.

O PMA (para-metoxianfetamina) e o PMMA (para-metoximetilanfetamina) são anfetaminas modificadas. Suas características, no entanto, tornam mais provável a ocorrência de hipertermia e diversas mortes por overdose já foram relatadas. A substância tem sido vendida como ecstasy, sob a forma de comprimidos da marca Mitsubishi, preocupando órgãos governamentais e de redução de danos.

A quetamina (Special-K) tem chamado bastante a atenção dos profissionais da saúde brasileiros, tendo em vista que relatos do consumo dessa droga vêm se tornando mais comuns. A quetamina foi sintetizada nos anos 60. Trata-se de um anestésico incapaz de deprimir a freqüência respiratória e cardíaca. Apesar disso, suas propriedades psicodélicas acabaram por contra-indica-lo para seres humanos, ficando restrito para o uso veterinário.

Em baixas doses produz sedação leve, pensamentos fantasiosos, com caráter de sonho, diminuição da atividade motora e alterações do humor (sensação de estar mais sociável e de captar o mundo de um modo diferente, podendo também aparecer reações depressivas e ansiosas). Naúses e vômitos são freqüentemente relatados. Sintomas paranóides e a percepção de um padrão de coincidências em tudo o que vêem podem ser observados em alguns indivíduos. Sedação pronunciada pode expor os usuários a riscos. Ao contrário da maior parte dos psicodélicos, a quetamina pode causar dependência.

Os nitratos (óxido nitroso) são formas gasosas que quando inalados causam analgesia, euforia, sedação leve e por vezes sintomas psicodélicos. Suas propriedades são conhecidas desde o século XVIII, quando então tornou-se um dos primeiros anestésicos da história da Medicina. Nesse período foi denominado “gás hilariante”.

Apesar de seguro quando utilizado com fins médicos, o gás hilariante pode causar complicações quando utilizado fora desse âmbito. Usuários pesados podem apresentar depleção de vitamina B12. Acidentes durante o consumo e sufocação já foram relatados. Padrões de uso compulsivo já foram descritos.

Por fim, as metanfetaminas. Elas são anfetaminas modificadas, fabricadas em laboratórios clandestinos, tendo alcançado alguma popularidade na Costa Leste dos EUA e nos países orientais. As primeiras metanfetaminas foram sintetizadas no Japão, em 1919. Podem ser consumidas por qualquer via. A via inalatória, no entanto, tem ganhado destaque.

Além de riscos agudos, tais como a overdose, o uso crônico pode levar à psicose anfetamínica, além de haver evidências sugestivas da neurotixicidade da substância. A dependência é sempre uma complicação para esses usuários.

Tidas como inofensivas nos primeiros tempos de seu consumo dentro das raves e dance clubs as drogas sintéticas trazem danos potenciais à saúde. O objetivo desse comentário foi o de atualizar os profissionais e interessados no tema acerca de algumas substâncias presentes no dia-a-dia de muitos indivíduos e que por vezes nos passa despercebidamente.

Fonte:

Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas)

Programa Álcool e Drogas (PAD) do Hospital Israelita Albert Einstein

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