Pelo fim da propaganda de bebidas alcoólicas

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Diversão, gente bonita, jovialidade e popularidade. Não importa a marca, os cenários dos comerciais de cerveja são animadores e convidativos. E isso é motivo de preocupação para quem sabe as possíveis consequências do álcool.

A propaganda de bebidas alcoólicas no Brasil é regulada pela lei nº 9.294, de 1996. Essa lei diz que bebida alcoólica é somente aquela com mais de 13 graus Gay Lussac (GL), ou seja, exclui cervejas e vinhos.

Enquanto isso, há um crescimento notável no consumo de bebidas alcoólicas, especialmente por parte dos adolescentes e jovens – geralmente, público-alvo dessas propagandas.

Mobilização pela Proibição

A Federação Espírita do Estado de Goiás, a Associação Médico-Espírita de Goiânia e outras instituições espíritas de Goiânia estão participando da Mobilização Nacional pela Proibição da Propaganda de Álcool.

A iniciativa consiste na coleta de assinaturas para envio ao Congresso Nacional solicitando alteração na Lei Federal nº 9.294/1996, que regulamenta a propaganda de álcool, hoje fortemente voltada ao público jovem.

Para saber mais sobre essa campanha acesse: http://comunicafeego.wix.com/feego#!campanhas/c16dl.

A Propaganda de Bebidas Alcoólicas no Brasil

A psicóloga Ilana Pinsky, uma das maiores especialistas no assunto, escreveu um texto sobre o assunto que vale a pena ler. Veja a seguir:

A Propaganda de Bebidas Alcoólicas no Brasil

Por Ilana Pinsky *

A propaganda de bebidas alcoólicas no Brasil é regulada pela lei n. 9,294, de 1996. Segundo essa lei, que também regulamenta os cigarros, entre outros produtos, bebida alcoólica é somente aquela com mais de 13 GL, ou seja, exclui cervejas e vinhos. A principal restrição que apresenta é a redução do horário de propaganda na televisão e no rádio permitindo propagandas de álcool entre 21:00 e 6:00 horas. No entanto, as chamadas, propagandas de uns poucos segundos, são permitidas a qualquer horário.A partir de 2000, uma nova lei (n.10.167), foi sancionada que praticamente proibiu qualquer propaganda de cigarro (exceto dentro dos locais de venda). Apesar dessa proibição não atingir as bebidas alcoólicas, o clima político parece ter se alterado um pouco, tanto que em janeiro de 2002 haviam mais de 50 projetos de lei propondo maiores restrições às propagandas de álcool.

No início de 2003, o governo pareceu mais consciente do que nunca sobre a importância de introduzir restrições mais profundas com a intenção de reduzir os problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas. No que diz respeito às propagandas de álcool, o ministro da saúde propôs a inclusão das cervejas na restrição de horário de veiculação.

A cerveja possui papel de destaque entre as bebidas alcoólicas consumidas no Brasil. Dos cerca de U$ 106,000,000 gastos em propaganda de álcool na mídia em 2001, 80% foi em cerveja. Da mesma maneira, o consumo de cerveja representa 85% das bebidas alcoólicas consumidas. Apesar dessa quantidade ser muito menor se levarmos em conta apenas o álcool puro das bebidas alcoólicas, a cerveja certamente é uma bebida alcoólica e tem um papel importante em muitos dos problemas relacionados ao álcool, principalmente no que diz respeito aos jovens.

Os números de problemas associados ao álcool no Brasil não deixam dúvida quanto ao potencial devastador deste, principalmente junto aos jovens. Em acidentes com motoristas alcoolizados, episódios de violência relacionados ao álcool, intoxicação alcoólica, etc., os jovens têm uma participação importante e início cada vez mais precoce. As propagandas e marketing das bebidas alcoólicas no Brasil são parte integrante da criação de um clima normatizador, associando-as exclusivamente a momentos gloriosos, à sexualidade e a ser brasileiro, esquecendo-se dos problemas associados.

Restringir a propaganda de álcool é uma estratégia importante? Estudos recentes e utilizando metodologia avançada têm conseguido mostrar associações importantes entre a propaganda de bebidas alcoólicas e o consumo de álcool entre os jovens. Uma das pesquisas mais interessantes investigou por vários anos e comprovou o impacto que apreciar propagandas de cerveja aos 18 anos tinha sobre o consumo de álcool e o comportamento agressivo relacionado ao uso de álcool aos 21 anos. Outro estudo dirigindo-se à faixa etária dos 10-17 anos, encontrou que gostar da propaganda e assistir propagandas com maior frequência associou-se com a expectativa de beber mais no futuro. Além disso, muitos dos jovens entrevistados sentiram que as propagandas de álcool os encorajavam a beber, especialmente os meninos de 10-13 anos, que aceitavam as propagandas como realísticas.

No entanto, qualquer pessoa que já tenha assistido a alguma propaganda de álcool na televisão brasileira, verifica a agressiva utilização da sexualidade nas propagandas, especialmente no caso da cerveja. Também é fácil verificar que os (muito) jovens são certamente alvos das propagandas, com temas evidentemente voltados a eles (ex: desenhos animados, festas rave, etc.). Além disso, as indústrias têm desenvolvido produtos voltados a essa faixa etária (os produtos ice, destilados misturados com refrigerantes ou sucos), e oferecido patrocínio a festas exclusivamente desse público-alvo (ex.: Skol Bits). Mas tão importante como as estratégias descritas acima, é a utilização do Brasil e de símbolos nacionais para a venda de álcool. Um exemplo bem recente e evidente dessa técnica ocorreu durante a Copa Mundial de Futebol, com a criação de uma tartaruga de desenho animado associada a uma marca de cerveja que foi denominada a torcedora símbolo da seleção brasileira? Algumas marcas de cachaça também têm se utilizado de características fortemente brasileiras, como o samba, para vender seus produtos.

Esse tipo de associação das bebidas alcoólicas com o que temos de mais característico no nosso país normatiza o álcool. Em especial, esse é mais um exemplo de como a propaganda do álcool mostra apenas uma face do uso do álcool, esquecendo ou associando à uma minoria de pessoas problemáticas? Sua importante contribuição para a morbidade, mortalidade e prejuízos sociais, inclusive no que se refere a criar um ambiente hostil e ridicularizador às mensagens e medidas de saúde pública.

Por que essa situação é importante? Um fator é a virtual inexistência de contrapartida da indústria do álcool no Brasil, no que se refere ao desenvolvimento de atividades sérias, coerentes e efetivas de prevenção ao abuso do álcool. Com exceção de uma atividade de pequenas proporções desenvolvida por uma das maiores indústrias de álcool no Brasil, a indústria como um todo não dá sinais de reconhecer sua responsabilidade social, nem para fins de relações públicas. Ou seja, a indústria das bebidas alcoólicas não assume e não se responsabiliza por qualquer tipo de problema relacionado ao álcool.

A indústria do álcool e da propaganda no Brasil não está, nem de longe, desempenhando um papel responsável nessa situação. Medidas claras devem ser tomadas para lidar com esse importante problema de saúde pública.

* Ilana Pinsky é psicóloga, pós-doutorada na Robert Wood Johnson Medical School(EUA) e coordenadora do ambulatório de adolescentes da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) – UNIFESP.

Fonte: Movimento Propaganda Sem Bebida

Você acha que a lei deveria ser mais rígida ou proibisse a propaganda de bebidas alcoólicas no Brasil? Qual sua opinião sobre o assunto?

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