Beber, cair e não levantar

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O ato começa por exibicionismo, farra. Depois, a agonia do vício. A bebida entra cada vez mais cedo na vida das pessoas.

Mais do que um hábito corriqueiro. O ato de beber é, antes de tudo, obrigação cultural no Brasil. Para o senso comum, brindar à vida sem cerveja não é comemorar. Por influência do meio ou curiosidade, a bebida chega cada vez mais cedo aos lares brasileiros.

Ela chega de mansinho, seja por experimentar um gole do pai quando criança ou para fazer bonito perante os amigos num churrasco da turma. Muitos levam a cerveja para a vida toda de forma controlada. Já para outros tantos, a coisa foge do controle.

Conforme dados do Ministério da Saúde, 57 pessoas morrem por dia no Brasil devido a doenças associadas ao álcool. De acordo com o levantamento das Secretarias de Assistência Social e Cidadania, Educação e Saúde de Maringá, nos anos de 2006, 2007 e 2008, as drogas mais consumidas na cidade continuam sendo o crack e o álcool.

O relatório foi formulado pelos Conselho Municipal Antidrogas, Polícias Militar e Federal, entidades e grupos de apoio.

Em 2008, a média de atendimento realizado pelo Centro Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CapsAD) foi de 100 pacientes por mês, resultando em 400 procedimentos médicos mensais. Desses atendimentos, 49% procuraram tratamento para alcoolismo, 41% múltiplas drogas e 10% para maconha.

A porta de entrada das drogas ilícitas é o álcool na opinião do conselheiro titular de Maringá, Vandré Fernando. “A criança cresce com a cultura popular onde beber é habitual. O uísque é enfeite na casa. A criança compra cerveja pro pai para o churrasco de domingo”, diz. O estímulo é ininterrupto.

As propagandas para o consumo moderado das drogas lícitas agem de forma estratégica. O conselheiro lembra bem um modelo de como a bebida está enraizada na tradição tupiniquim.

“Tem cidade que o cartão postal é um garrafão de vinho. Outras exportam cachaça e fazem da pinga um alicerce pro turismo”.

A bebida também serve de trampolim para destrave emocional.

“Se a pessoa é tímida, ela bebe para se enturmar. Tomar um porre dá um ar de satisfação, de poder. Antes da balada, a lei é ir pro ‘esquenta’”.

O jovem não está na contramão como atribuem alguns, ele segue o sistema. Para Vandré, o problema não está no jovem, mas na cultura.

O álcool se tornou banal perante os adolescentes. O hábito precoce é visto como ‘desinibidor’ e fator preponderante para se posicionar num grupo de amigos. “O jovem incorpora comportamento que a sociedade oferece”, acredita.

Afinal, nas propagandas só existe mulheres bonitas e imagem de alegria. Com o tabaco, as propagandas lembravam homens de Hollywood trazendo beleza, elegância e charme a cada tragada. “Não entendo a lógica de que as pessoas pagam para ficar doente. Quantos prejuízos são causados pelo consumo do álcool e do cigarro”, indaga.

Ao invés de discutirem a maioridade, segundo o conselheiro, deveriam propor uma reflexão cultural e comportamental. Ele se vale da frase célebre do escritor francês, Joseph Joubert: “As crianças têm mais necessidade de modelos do que de críticas”. Portanto, o modelo deve vir de casa, do meio onde vive a criança, na própria sociedade.

As ações do governo de combate às drogas não surtem a eficácia necessária. Os números de recuperação de adictos são poucos.

No Conselho Tutelar, dificilmente um pai denuncia o filho por estar bebendo “Quando o caso vem para cá, o filho já está na droga, na ‘pedra’”, frisa. A atitude de denunciar o filho é digna na visão do órgão público municipal. Em Maringá, o primeiro Conselho do País, completa 18 anos.

Sua função é zelar pelos direitos da infância e juventude, conforme os princípios estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

“Se o pai esconder a droga, vai passar para o filho a mensagem de que ele concorda , reforçando seu comportamento. Ao denunciá-lo, o pai mostra que não é a favor daquilo. Quando o pai faz é uma questão pedagógica”, diz.

Na função de educadores do futuro adulto, se o pai não cobrar, a sociedade cobra mais tarde de forma dolorosa, seja na prisão, na morte ou no hospital psiquiátrico. O álcool é ligado à agressão doméstica, à desestruturação familiar.

“A maior parte das queixas enquadradas na Lei Maria da penha tem relação ao consumo do álcool”, lembra.

Para se ter uma idéia do avanço de entorpecentes no Brasil, o consumo da cocaína quase dobrou em três anos, segundo relatório do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc). Para debater a dependência química como problema social e de saúde pública nada melhor que enfocar a prevenção.

Fonte: Hnews

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