Famílias alcoolistas

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Uma pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP revela a necessidade de se acompanhar, até por volta de 15 anos, crianças de famílias cujos pais e maridos são alcoolistas.

Além de ser uma maneira de previnir um eventual problema de alcoolismo no futuro, o estudo mostra a importância da terapia familiar como uma das estratégias que deve ser usada no tratamento do alcoolismo.

A psicóloga Joseane de Souza, autora da tese de doutorado, entrevistou três membros de cada família: a mãe, o pai e um dos filhos que estivesse na faixa etária entre 9 e 11 anos. A pesquisa foi aplicada em 14 famílias atendidas em serviços públicos de saúde para tratamento de alcoolismo na cidade de Guarapuava, no Paraná.

Afetividade entre mães e filhos

“Nesses núcleos familiares a relação entre as mães e seus filhos apresenta mais afetividade do que na relação dessas mulheres com seus maridos e desses filhos com seus pais”, explica a pesquisadora.

“A relação afetiva entre mãe e filho, nesta faixa etária, tem sido positiva, pois quanto mais afetividade existe nesta relação, menos sinais de depressão e problemas de comportamento a criança apresentava.

Por outro lado a literatura mostra que, nas famílias alcoolistas, os filhos mais próximos das mães acabam auxiliando-a no cuidado com o pai e os seus irmãos. O fato de assumir responsabilidade da qual ele ainda não está preparado pode predispô-los para distúrbios psicológicos na sua vida adulta.”

Tratamento familiar

O objetivo do estudo longitudinal seria acompanhar o desenvolvimento dessa criança até por volta dos 15 anos (adolescência), quando começa o processo de individualização. “Não sabemos até que ponto essa relação mãe-filho será positiva, visto que constatamos nesta pesquisa que há uma repetição no padrão comportamental dessas famílias: a maioria desses pais e dessas mães apresentam um histórico de alcoolismo na família de origem”, revela.

A pesquisa também aponta para a necessidade de se tratar todos as pessoas que fazem parte da família alcoolista, em razão de que a doença acaba afetando a todos da casa. Joseane explica que, de acordo com a Teoria Sistêmica da Família, desenvolvida pelo pesquisador Salvador Minuchin, quando se oferece ajuda para um membro da família, você ajuda a mudar os outros membros.

Resgate da auto-estima

“Se você resgata a auto-estima do pai, você melhora a condição do filho”, aponta. “Neste estudo, percebemos que a maioria das mães entrevistadas apresentava sinais de depressão e estavam sobrecarregadas, pois muitas eram as provedoras da casa, pois o marido estava desempregado”, comenta.

Em relação aos pais, a sugestão é que seja levado em conta que eles também desempenham outros papéis sociais, como homem, marido e filho. “Muitos deles tiveram dificuldades em responder aos questionários sobre os sintomas de depressão e outros comentaram que nunca haviam falado sobre a sua experiência de conviver com o pai alcoolista”, relata.

A psicóloga sugere que sejam realizados estudos semelhantes com famílias de alcoolistas pertencentes às classes média e alta para comparar os resultados. Joseane ressalta que apesar de o número de famílias analisadas ter sido pequeno, os resultados do estudo foram bastante significativos.

Histórico de alcoolismo

Foram aplicados dois instrumentos para avaliar cada uma das 14 famílias. O primeiro foi o genograma, que possibilita coletar dados do histórico familiar do casal e averiguar como era o relacionamento deles com as famílias de origem (pai, mãe e irmãos). “Os pais entrevistados relataram que cuidavam da mãe quando criança. Eles contaram que havia muita violência, tanto física como psicológica, e falaram dos próprios pais com muita mágoa”, conta.

Foram aplicados dois instrumentos para avaliar cada uma das 14 famílias. O primeiro foi o genograma, que possibilita coletar dados do histórico familiar do casal e averiguar como era o relacionamento deles com as famílias de origem (pai, mãe e irmãos).

“Os pais entrevistados relataram que cuidavam da mãe quando criança. Eles contaram que havia muita violência, tanto física como psicológica, e falaram dos próprios pais com muita mágoa”, conta.

Segundo Joseane, a escolha da faixa etária entre 9 e 11 anos ocorreu porque é um período em que a criança já apresenta uma auto-percepção sobre si mesma e o mundo ao seu redor, e já capaz de identificar os próprios sentimentos, além de ainda não fazer uso de nenhum tipo de droga.s

Fonte: Diário da Saúde

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