Maior punição para motoristas embriagados

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A punição para motoristas que são flagrados dirigindo embriagados deve ser mais rígida. Essa é a opinião de 97% das pessoas ouvidas durante pesquisa feita pelo Instituto Futura, em parceria com a Rádio CBN, na Grande Vitória.

A mesma quantidade de entrevistados – 97% – concorda que o condutor, ao dirigir sob efeito de álcool, está cometendo um crime.

A pesquisa foi realizada no final de abril, dias depois do acidente envolvendo o comerciante Wagner José Dondoni, que dirigia embriagado na BR 101, em Viana, e provocou duas colisões.

Numa delas, três pessoas de uma mesma família morreram.

Quase 40% da população da Grande Vitória (Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica) dirige. Desses, 14% – o que equivale a 5% do total de pesquisados – assumem que, pelo menos uma vez nos últimos 12 meses guiaram após consumir bebida alcoólica.

Dos entrevistados, 87% afirmam que o motorista deve ser detido se for flagrado alcoolizado. Porém 39% concordam que isso só deve acontecer se o condutor causar algum tipo de acidente.

Contradição

“A pesquisa mostra uma contradição preocupante, pois afirma que a população realmente está preocupada com o caos instaurado no trânsito, mas não sabe que atitudes tomar para que o quadro seja alterado”, afirma o diretor do Instituto Futura, José Luiz Orrico.

Para mudar o hábito de dirigir após ingerir bebidas alcoólicas, segundo a pesquisa, a sociedade precisa de um “pai”, um agente fiscalizador para corrigir seus erros.

“A afirmação está presente no quesito que questiona às campanhas promovidas pelo governo com o intuito de desestimular o consumo de bebidas alcoólicas pelos motoristas, como a Madrugada Viva. Noventa e dois por cento dos capixabas são a favor, e, entre esses, 71% a classifica como ótima, e 65% gostaria que essas campanhas acontecessem todos os dias.”

Conscientização

O delegado titular de Delitos de Trânsito, Fabiano Contarato, afirma que a sociedade precisa aprender que ela é o agente diretamente envolvido, quer seja como vítima ou o motorista, nos acidentes. De acordo com ele, a população cobra leis mais severas porque está tendo consciência das diferenças entre os crimes no trânsito.

“Há o discernimento entre fatalidade e irresponsabilidade. Uma coisa é causar uma morte em um acidente. Outra é estar alcoolizado e matar alguém. O que o povo quer é justiça. A pena não pode ser igual nos dois casos”, frisou.

Motoristas mais velhos admitem dirigir após beber

Mais idade não quer dizer mais responsabilidade quando o assunto é pegar o volante após ingerir bebida alcoólica. Dezenove por cento dos motoristas que responderam à pesquisa e têm entre 50 e 59 anos admitiram ter dirigido pelo menos uma vez após ter consumido bebida alcoólica nos últimos 12 meses.

Entre os “caroneiros”, 54% das pessoas que foram ouvidas pelo Instituto Futura e têm entre 30 e 39 anos e afirmaram que já entraram num veículo conduzido por pessoa embriagada, mesmo sabendo dos riscos que corriam com essa atitude.

As conclusões

Saiba o que afirmaram os entrevistados:

Confessos

Apenas 5% dos capixabas assumem que nos últimos 12 meses já dirigiram alcoolizados. Vitória foi a campeã nesse ranking: 19% dos entrevistados que vivem na Capital confessaram já ter guiado após beber.

Imprudentes

Os moradores da Grande Vitória que dirigem automóveis e têm idade entre 50 e 59 anos são os mais imprudentes no trânsito. Segundo a pesquisa, 19% deles admitem que nos últimos 12 meses dirigiram após ter consumido bebida alcoólica.

Testemunhas

37% dos entrevistados afirmaram ter presenciado um amigo ou um familiar dirigir após ter consumido bebida alcoólica.

Bronca

Um ponto da enquete foi animador: 61% das pessoas que viram algum parente ou amigo beber e depois dirigir tentaram impedir que o motorista imprudente pegasse a direção do automóvel.

Carona

O número de pessoas que já pegaram carona com um motorista alcoolizado é grande: 46%. As pessoas com faixa etária acima de 50 anos são as que menos se submeteram a essa situação, com 27%.

Educação

De acordo com a pesquisa do Instituto Futura, 19% dos motoristas entrevistados que assumiram beber e dirigir cursam ou cursaram o ensino superior.

Classes

Dessas, 17% das pessoas pertencem à classe média alta.

Pesquisa mostra conscientização

A diretora do Departamento Estadual de Trânsito do Estado (Detran-ES), Luciene Becacici, afirma que o resultado da pesquisa realizada pela Futura, em parceria com a Rádio CBN, sobre a insatisfação da sociedade em relação à punição aos motoristas que dirigem alcoolizados, significa um movimento rumo à conscientização social.

“As pessoas, principalmente os jovens, precisam descobrir o seu papel na luta contra a violência no trânsito”, afirma, dizendo que o Detran vai continuar investindo em ações educativas. “O Estado apresentou, em 2007, 618 mortes no trânsito, sendo que 28% dos acidentes envolviam jovens e 50% se baseava em alcoolemia.

Portanto, nossa meta é investir cada vez mais em projetos como o Madrugada Viva – que aborda motoristas durante os fins de semana e feriados com ações educativas e punitivas – e a fortificação de uma campanha junto aos motociclistas”.

A partir do dia 20, o órgão inaugura em Vitória a sede do projeto Vida Urgente/ES. O local será o centro de campanhas educativas, principalmente com escolas e ONGs. O ponto também será o foco de discussão sobre formas de conscientizar à população sobre a importância da paz no trânsito.

Mudanças no Código

Principais pontos propostos pelo Detran-ES

Educação

Implementar na grade curricular obrigatória dos ensinos fundamental e médio a disciplina de Educação de Trânsito e Cidadania. De acordo com a diretora de Detran-ES, Luciene Becacici, é imprescindível que a criança aprenda as normas básicas de respeito à vida do próximo ao conduzir um carro

Alcoolemia Zero

Hoje, o limite estipulado é que o condutor tenha, no máximo, 0,6 grama de álcool por litro de sangue. As autoridades pedem que a tolerância seja zero. Luciene destaca que qualquer quantidade de bebida alcoólica ingerida provoca a perda de reflexo

Penalização

Os órgãos que fiscalizam o trânsito no Brasil estão na luta pela reformulação do grau de infração cometida pelo motorista. Hoje, o acidente que provoca morte é considerado homicídio culposo, isto é, sem intenção de matar. Luciene Becacici defende a instituição de crime doloso para esses casos. Ou seja: em todas as circunstâncias em que houver morte associada ao uso de álcool deve haver punição mais rigoro

Opiniões

“O brasileiro usa o trânsito como válvula de escape para fugir de seus complexos. Por isso, leis enérgicas são necessárias para conscientizar os motoristas de seus erros”
Rui de Almeida 77, empresário

“Dirigir embriagado é errado. Enquanto não houver a prisão dos motoristas, não haverá mudança. A punição parece ser a única saída para se acabar com isso”
Luiz do Nascimento 51, pescador

“A questão é de educação. Os mais velhos precisam dar exemplos, e, em muitos casos, são os pais que cometem a maioria dos crimes. Não há mais referência”
Luciana Reis 26, estudante

“Os ‘criminosos do trânsito’ precisam ser punidos, só assim haverá conscientização. Acredito que, no mínimo, dez anos de prisão sejam necessários”
Maria Aparecida de Souza 32, manicure

Flexibilidade

Pena substituída

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), cuja última reformulação ocorreu em 1997, prevê, na grande maioria dos casos, que o motorista responsável por um acidente seguido de morte responda pelo crime de homicídio culposo – cometido sem intenção. A punição geralmente é a chamada pena alternativa.

Um exemplo é o cantor Renner, da dupla Rick e Renner, por exemplo, foi condenado pela morte de um casal de namorados, em 2001. A Justiça substituiu a pena de prisão do cantor pelo pagamento de 360 salários mínimos e prestação de serviços comunitários.

Tragédia chocou o Estado em abril

O acidente provocado pelo empresário Wagner José Dondoni de Oliveira, 41 anos, revoltou a população e representa o alto grau de imprudência no trânsito provocado por alguns motoristas no país. Dondoni ainda tinha 6.7 decigramas de álcool por litro de sangue dez horas após cometer o acidente de trânsito que matou três pessoas no último dia 20 de abril.

Morreram no desastre Maria Sueli Costa Miranda, 29 anos; o filho, Ronald Andrade, 3; e o enteado, Rafael Scalfone Andrade, 13. O marido de Maria, o cabeleireiro Romualdo de Andrade, ficou ferido.

A tragédia aconteceu às 7 horas, no quilômetro 304 da BR 101 Sul, próximo ao posto de combustíveis Flecha. Um Fiat Uno, que seguia no sentido Viana – Guarapari, foi atingido pela caminhonete do empresário, que vinha em sentido contrário.

Zigue-zague

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a S-10 “ziguezagueava” e teria provocado outro acidente antes de colidir com o Uno. Dondoni ainda mentiu para a polícia e uma carteira de identificada falsificada. Ele continua preso.

O caso de Viana não é incomum no Estado. Em fevereiro deste ano, a dona de casa Maria Zilda Gomes de Almeida foi atropelada por um motorista embriagado, quando estava em frente de casa, no bairro Campinho da Serra, na Serra.

Em dezembro, três pessoas foram atropeladas num ponto de ônibus em Maruípe, Vitória, pelo bancário Paulo Roberto de Oliveira, 46 anos, que estava alcoolizado. Uma das vítimas, Orlando Paulino, 57 anos, morreu dias depois.

Margem de erro

4,9 pontos percentuais

Essa é a margem de erro – para mais e para menos – da pesquisa sobre álcool e volante. O intervalo de confiança é de 95%, segundo o Instituto Futura.

Entrevistados

407 pessoas

Esse é o número de entrevistados pelo Instituto Futura. Foram ouvidas pessoas de diferentes faixas etárias, sexo, escolaridade e classes sociais na Grande Vitória.

Fonte: Gazeta Online

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