Violência e álcool, uma relação estreita

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Mais da metade das pessoas mortas por causas violentas encaminhadas ao Instituto Médico-Legal – IML de Anápolis em Goiás, entre janeiro de 2003 e dezembro de 2005, teve algum teor de álcool encontrado no sangue, coletado para exame de dosagem alcoólica.

É o que revela essa pesquisa inédita que comprova, em números, um alerta reiterado por especialistas em saúde pública no mundo inteiro: o de que o álcool, droga lícita vendida livremente, é uma substância fortemente ligada a mudanças comportamentais que resultam em histórias trágicas de violência.

O trabalho, desenvolvido pelo Auxiliar de Autópsia e Farmacêutico Carlúcio Costa Medeiros, analisou 246 exames de dosagem de teor de etanol realizados em pessoas que tiveram óbito provocado por causas externas, como acidentes de trânsito, homicídios, suicídios e afogamentos. Dos exames analisados por Carlúcio, 141, ou 57,3%, apresentaram resultado positivo para a presença de etanol.

Do total de vítimas que tiveram algum teor de álcool encontrado no organismo, 71,63% morreram vítimas de acidentes de trânsito. Outro resultado que chama a atenção, nesse caso, é o próprio teor de álcool encontrado no corpo das vítimas.

A média de etanol detectado no sangue das pessoas mortas em acidentes de trânsito, de acordo com a pesquisa, foi de 9,42 decigramas de álcool por litro de sangue (dg/l), mais de 50% superior ao limite permitido pelo Código de Trânsito Brasileiro – CTB para dirigir veículo automotor.

Ao cruzar os valores de etanol detectados nos exames com os horários dos óbitos, Carlúcio descobriu que a maioria das mortes em circunstâncias violentas ocorreu à noite, entre as 18 horas e 6 horas do outro dia. A média do teor de álcool encontrada no organismo de pessoas que morreram em altas horas da madrugada chegou a 13,23 decigramas da substância por litro de sangue.

A partir de 10 dg/l, os reflexos ficam mais lentos e a deterioração do controle dos movimentos voluntários torna-se evidente. “Esses resultados corroboram a idéia de que a restrição de horários para a venda de bebidas alcoólicas pode reduzir o consumo e seus efeitos nocivos”, destaca o pesquisador.

A restrição no horário de funcionamento dos bares que comercializam bebida alcoólica foi defendida em projeto de lei aprovado pela Assembléia Legislativa de Goiás em janeiro de 2003. A proposta, de autoria do Deputado Lívio Luciano, despertou polêmica e sofreu a pressão dos empresários do setor, que não concordavam com a medida, alegando que o fechamento dos bares mais cedo resultaria em prejuízos e demissões. Encaminhado ao Executivo, o autógrafo de lei retornou à Assembléia sem veto ou sanção e não chegou a ser promulgado. Ou seja, não se tornou lei.

“É preciso pensar em uma forma de controle da venda de bebida, sobretudo aos adolescentes”, alerta Luciano Sardinha, Diretor-Geral do Hospital de Urgências de Goiânia – Hugo, para onde são levadas diariamente centenas de vítimas de acidentes no trânsito e de violência interpessoal. Muitos, vítimas ou autores de crimes, são adolescentes encaminhados ao hospital visivelmente embriagados.

Quem abusa do consumo de álcool invariavelmente vai sofrer alterações orgânicas, como redução da capacidade motora e da atenção, diminuição dos reflexos, descontrole emocional e sonolência, entre outras, alerta o Psiquiatra Lourival Belém. A intensidade dos efeitos, as reações e as conseqüências desse consumo abusivo vão variar de pessoa para pessoa.

Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas)/Programa Álcool e Drogas (PAD) do Hospital Israelita Albert Einstein

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