Grupo de apoio é fundamental na luta contra o alcoolismo

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“Meu desejo era mudar de vida.” Essa foi a principal motivação encontrada por J.L., hoje com 61 anos, para conseguir se libertar do vício do alcoolismo. O auxiliar de almoxarifado concordou em dividir sua história com a reportagem do Jornal de Jundiaí, até mesmo para ajudar outras pessoas nessa situação, mas preferiu não se identificar.

Ele conta que largou o vício do álcool há 21 anos. “Tudo devido a Deus, ao apoio da minha família e ao trabalho desenvolvido pela comunidade Alcoólicos Anônimos (AA)”, afirma.
Segundo J.L., sua história com alcoolismo começou muito cedo, quando ainda tinha 12 anos, durante uma festa de casamento. “Eu tomei uma cerveja por curiosidade e depois daquilo o álcool passou a ser uma válvula de escape para a minha timidez, proporcionando uma falsa sensação de bem-estar”, recorda.

Daquela ocasião em diante, ele lembra que as doses foram aumentando, passando da cerveja para bebidas mais fortes, como conhaque e pinga. “O vício já estava tomando conta de mim, tanto que comecei a ter problemas familiares e profissionais. Fui ficando cada vez mais isolado, indo para o fundo do poço”, descreve.

Já em profunda dependência, J.L. sentia que precisava de ajuda. “Foi neste momento em que conheci os Alcoólicos Anônimos, através de uma indicação de um familiar, passando a frequentar as salas de reuniões”, diz.

Nestes encontros, ele era convidado a falar sobre a vida e também escutava o que as outras pessoas tinham para dizer. “No AA, através dos exemplos, aprendi a evitar o primeiro gole de qualquer bebida que contenha álcool e tenho vivido um dia de cada vez”, afirma.

Com o copo na mão, ele ficou 4 anos em uma empresa. “Sem o copo já estou há 14 anos em um mesmo trabalho. Além disso, vivo em paz com minha família e com a minha comunidade e aprendi que tenho que ser humilde e honesto em todos os meus atos. Mesmo há tanto tempo sem beber, sigo frequentando o AA, colaborando com outras pessoas, que sofrem com essa dependência”, resume.

Atualmente, segundo dados da Unidade de Gestão de Saúde de Jundiaí, 329 alcoolistas são atendidos pelo Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e outras Drogas (Caps AD) da cidade por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o que equivale a 32% dos usuários do equipamento. Desse número, 58 são mulheres (18%) e 271 homens (82%).

O psiquiatra e antroposófico Ivo Pinfildi Neto explica que o alcoolismo muitas vezes está associado a questões emocionais, principalmente depressão, ansiedade e traços de personalidade, notados em pessoas muito tímidas, com fobias, que têm dificuldades de se manifestar com outras pessoas.

Segundo o especialista, cada situação precisa ser avaliada. “Muitas vezes ao tratar o problema emocional a pessoa fica mais fortalecida para lidar com o alcoolismo. Por isso, é fundamental identificar as condições emocionais que estão acontecendo junto com o alcoolismo”, esclarece.

Pinfildi ressalta que existem medicações para tratar o alcoolismo, associado ou não aos transtornos psiquiátricos. “Além disso, o suporte psicológico e familiar é importante. Afinal, a pessoa que é dependente muitas vezes sofre a falta de perspectiva e sentido da vida”, comenta.

Como recomendação, o psiquiatra salienta que a primeira etapa é identificar e conscientizar a pessoa e seus familiares. “Depois é possível pensar no tratamento psiquiátrico, psicológico e familiar quando necessário”, resume.

Apoio

O Grupo Progresso de Alcoólicos Anônimos, localizado na rua Várzea Paulista, 305, na Vila Progresso, em Jundiaí, é coordenado por Luzia. Ela explica que a entidade atende atualmente 18 pessoas entre homens e mulheres. “São 28 anos de atividades e o grupo já recuperou mais de 100 pessoas neste período”, destaca.

O AA é uma irmandade mundial formada por homens e mulheres que compartilham suas experiências, força e esperança, a fim de transmitir a mensagem do alcoólico que ainda sofre. “Esse diálogo envolve detalhes sobre o problema do alcoolismo, uma doença progressiva, incurável, que causa morte prematura, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, explica.

Luzia informa que os encontros acontecem todas as terças, quintas e sábados, das 20h às 22h. “O A.A. possibilita uma troca de experiências. O atendimento é gratuito e a irmandade sobrevive com a contribuição espontânea de cada membro”, reforça.

Sobre a doença, a coordenadora ressalta que o alcoolismo está associado a questões emocionais, físicas e espirituais. “Geralmente quando as pessoas buscam ajuda, elas estão fracas em todos esses sentidos e sem esperança. O apoio da família para o tratamento é fundamental e, por este motivo temos um grupo paralelo conhecido como Aalanon, que fortalece o lado psicológico da família”, complementa.

Tratamento

A rede pública de saúde de Jundiaí oferece atendimento para pessoas com dependência de álcool e outras drogas. O atendimento é feito nos equipamentos da Rede de Atenção Psicossocial que inclui os Caps, unidades básicas de saúde, Núcleo de Atenção à Família, Consultório na Rua e a enfermagem de retaguarda do Hospital São Vicente.

O Caps AD, equipamento estratégico para o cuidado a essa população, tem porta aberta, ou seja, não necessita de encaminhamento prévio para o atendimento, que é multiprofissional, realizado por psicólogos, médicos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, enfermeiros, artesãos, assistentes sociais, entre outros. Entre as ofertas de cuidados estão atendimentos especializados, grupos terapêuticos, oficinas, atividades esportivas e de geração de renda.

Fonte:

VINÍCIUS SCARTON  – Jornal de Jundiaí

1 comentário


  1. Quero felicitar a todos envolvidos nessa magnifica e necessária matéria e ressaltar a importância de se colocar os nossos princípios acima de qualquer personalidade. É assim que o A.A. deve funcionar, exatamente como vi nesse post.
    Nossa política de relações públicas merece a nossa melhor compreensão e toda consideração, trabalhamos por meio da atração e colaboração, essencialmente, somente em raros casos seguimos pela promoção… Muito bom!!!!

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