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Onda “ice” estimula adesão precoce ao álcool

A mais recente e importante investida da indústria de bebidas na busca de consumidores jovens brasileiros: a introdução, a partir de 99, dos produtos “ices” – que misturam vodca, uísque, rum e cachaça com sucos, água ou qualquer outro líquido que dilua o álcool e disfarce seu sabor acentuado, tornando-o mais tolerável ao paladar juvenil.

No mundo, as “ices” (pronuncia-se aices) são a bebida cujo consumo cresce mais rápido, segundo dados da Nielsen (empresa de pesquisa de mercado) de 2002.

O teor alcoólico das bebidas gira em torno de 5%, próximo do da cerveja. Bebe-se rápido e sem sentir o gosto do álcool. Algumas da garrafinhas equivalem, por exemplo, a uma dose de uísque.

“Ices” propriamente ditas, refrigerantes alcoólicos, coquetéis ou bebidas mistas, os fabricantes querem ser os primeiros a molhar com álcool a boca dos bebedores jovens, dizem especialistas. Pela lei, é proibida a venda de bebida alcoólica a menores de 18 anos. Mas a falta de fiscalização permite que adolescentes também saboreiem essas “poções mágicas”.

A estratégia desses produtos é parecida com a das cervejas: os temas são alegria, juventude e sexualidade. As “ices” estão querendo substituir as cervejas como as bebidas de iniciação na cultura etílica. As propagandas igualam juventude às bebidas. Não fica claro em que idade inicia-se essa juventude: aos 21, 18, 15 anos?”, indaga a coordenadora do ambulatório de adolescentes da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Ilana Pinsky, depois de analisar algumas propagandas.

“Misturando álcool com suco de frutas, bebidas energéticas e outros produtos, usando propagandas focadas no estilo de vida jovem, esportes e diversão, os grandes produtores de álcool tentam estabelecer o hábito da bebida em idades muito jovens”, disse em fevereiro de 2001 a diretora-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Gro Harlem Brundtland, ao discursar na conferência ministerial européia sobre álcool e jovens. Na ocasião, ela pediu restrições ao marketing.

Em maio de 2002, após o primeiro encontro sobre propaganda de álcool e jovens, realizado na Espanha, especialistas recomendaram que a OMS oriente os países para que a juventude não seja exposta a propagandas nocivas.

É certo que as misturas abocanham ainda a menor fatia do mercado de bebidas brasileiro, apesar de produtores não divulgarem dados. E é claro que eles querem mais. Nos EUA, as vendas das misturas eram estimadas em US$ 1,5 bilhão em 2000

Entre 2000 e 2001, ainda engatinhando, o investimento em publicidade dessas bebidas cresceu 88% no Brasil, contra 38% da poderosa indústria da cerveja, segundo dados do Ibope Monitor.

“É preciso considerar que a quase totalidade dos coquetéis, como chamamos essas bebidas, entrou no mercado em 2002”, diz Rita Romero, gerente de novos projetos do Ibope. Hoje, já são bem mais de 15 marcas.

É preciso considerar também que o consumo de cerveja desde 1999 se estagnou em torno de 8 bilhões de litros por ano.

A investida em gerações mais jovens pode aumentar ainda mais os danos causados pelo álcool.

“Estudos mostram que, quanto mais cedo se começa a beber, mais chance a pessoa terá de ficar dependente”, diz o médico Dartiu Xavier da Silveira, da Unifesp.

Pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas com alunos de escolas estaduais mostrou que 65% já tinham experimentado bebida alcoólica. E mais: 50% tinham bebido pela primeira vez entre dez e 12 anos.

Fonte: Propaganda Sem bebida (http://www.propagandasembebida.org.br)

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