Cerco aperta para motoristas bêbados

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Foram necessários três acidentes para Cleiton Durães se convencer a entregar o carro a outro condutor quando extrapola na bebida. “Antes eu chegava a me irritar se alguém pedia a chave. Agora fico mais tranqüilo quando minha esposa, que não bebe, sai comigo”, afirma Durães. Mas nem todos pensam assim.

A recusa em passar o volante a alguém é comportamento corriqueiro de 84% dos motoristas que ingerem álcool numa quantidade acima do permitido por lei. Além disso, 48% deles já se envolveram em acidentes de trânsito e 32% bebem de três a quatro vezes na semana.

Os dados fazem parte da pesquisa Beber e dirigir, conduzida por médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entre 2005 e 2007.

Participaram voluntariamente do levantamento 4.461 motoristas nas cidades de São Paulo, Vitória (ES), Belo Horizonte (MG), Diadema (SP) e Santos (SP). Eles foram abordados sempre às sextas-feiras e sábados, das 22h às 3h.

Do total, 68,9% tiveram teste negativo quanto à presença de álcool no organismo, 11,8% apresentaram níveis dentro do limite tolerado e 19,3% foram flagrados com índices superior ao permitido pela lei.

“Podemos dizer, portanto, que quase um terço dos motoristas dirigem nos finais de semana após terem bebido. É um dado muito grave”, ressalta Ronaldo Laranjeira, médico e um dos responsáveis pelo estudo. Segundo ele, os dias e horários escolhidos para convidar os motoristas a participar da pesquisa — composta pelo teste de bafômetro e um questionário — foram estrategicamente definidos com base nas estatísticas de trânsito.

“Paradoxalmente, o número de acidentes em São Paulo é 20% superior na sexta e no sábado à noite, mesmo com uma quantidade menor de veículos nas ruas.”

O inspetor Alvarez Simões, coordenador de operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), destaca que a fiscalização em relação ao consumo de álcool será uma das prioridades nas estradas. “Sabemos que muitas vezes, por trás de um fator contribuinte, como excesso de velocidade, está a embriaguez.

A meta é termos, em 2009, um etilômetro para cada viatura”, afirma o inspetor. Com os atuais 320 equipamentos, foram autuados, em 2007, 6.128 motoristas alcoolizados, 154% a mais que em 2006.

Simões destaca que o mesmo cerco aos condutores precisa ocorrer mais freqüentemente nas vias urbanas, onde a PRF não atua. O governo federal estuda, além de ampliar a vigilância, reduzir o limite tolerado de álcool no organismo, hoje de 0,6 decigramas por litro de sangue. Em países desenvolvidos, essa taxa é de 0,5, podendo chegar a 0,2.

“Podemos até diminuir esse índice, mas não resolverá o problema. Já temos boas leis sobre beber e dirigir. O negócio é que elas nunca foram aplicadas”, critica David Duarte, especialista em segurança de trânsito da Universidade de Brasília. Alberto Sabagg, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, concorda. “O que precisamos é de mais fiscalização. Hoje, a maior preocupação nas blitzes é com o carro, não com o condutor. Há muita relutância, até mesmo por parte do agente, de fiscalizar o motorista. Ele vai ter que parar a pessoa, observá-la, conversar”, diz o médico.

Fonte: Em Tempo Real

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